Sexta-feira, 30 de Janeiro de 2009
Não é de bica. É daqueles com 47 lugares sentados, cinto obrigatório e por-favor-não-comam-durante-a-viagem.
A distribuição de lugares não se faz pelo número indicado no bilhete. É simples. As senhoras de idade, noutros contextos velhinhas amorosas, tornam-se idosas implacáveis sedentas pelos lugares da frente. Se for preciso empurram, picam-nos com as agulhas de fazer a malha, ou pisam-nos com os sapatos ortopédicos, mas é o gang da idade que prevalece ali nos lugares 1 a 8. Sempre ouvi dizer que a idade é um posto.
O motorista, inocente, ingénuo, vê apenas em cada uma delas a sua mãezinha. Crê quando lhe dizem "Isto é da idade, filho, já não vejo bem os números". E ajuda-as a defender o lugar que não é delas. Depois, quase que lhes vejo um olhar furtivo de regozijo (de toma!toma!) e quase que lhes oiço a gargalhada maléfica que engolem, junto com os comprimidos para a osteoporose.
Excepção feita para os lugares do tricot, sento-me segundo o que está inscrito no papelinho azul. Desvio-me para o lado se não for o assento da janela. Gosto de ver a paisagem, ainda que já a saiba de cor – sempre são cinco anos de ida e volta.
Ponho os phones, para ouvir a minha música e não as outras. A do motorista, que às vezes é o relato. A do vizinho do lado, que parece não ser conhecedor das lesões do tímpano e dorme – dorme! - com uma qualquer música violenta no volume máximo, bem dentro dos ouvidos. A criança que chora é uma música diferente, um fado que nem sempre calha em rifa.
Não fecho os olhos, nem adormeço, mesmo que tenha de lutar contra o cansaço.
Chamem-me parva mas a vida já é curta demais, mesmo sem adormecer no ombro da pessoa desconhecida ao nosso lado (como tantas vezes já vi acontecer). No dia que passou não sobrou tempo para parar e pensar E já que neste contexto tenho de estar forçosamente parada, penso. E leio. E ouço música. E como os tempos já são outros, às vezes também vejo um filme.
E depois de tudo o que já conheço estamos quase a chegar. Seja a ida, seja a volta, dá sempre vontade de esperar mais um bocadinho – estava aqui tão sossegada.
Ninguém anuncia a paragem. Ou conheces, ou segues para Aveiro. É contigo.
Fartinha de saber onde estou, sei eu. Já sei desde que vi o castelo iluminado lá em cima – e é por isto que sabe tão bem chegar de noite.
Vamos embora.
Tudo isto porque esta semana, pelo menos para mim, não sai um Expresso.
feeling: alma de viajante
De Um Gajo Qualquer... a 30 de Janeiro de 2009 às 09:53
Já não faço uma viagem dessas... ui sei lá... faz muito tempo.
Então e um bom livro???
;)
De
P.uuuu a 30 de Janeiro de 2009 às 10:09
uuuuuuuuh!
fiz viagens dessas quase 6 anos seguidos. e ainda hoje as faço, quando assim tem de ser.
no meu caso, prefiro sempre não cumprir o que diz o papelinho azul, e sento-me quase sempre no mesmo lugar, que é o primeiro a seguir à porta de trás, porque não gosto de ter bancos à minha frente. sou um bocado claustrofóbica, e a ideia de ter o banco quase colado à minha cara deixa-me um bocadinho nervosa.
no que diz respeito às velhinhas, as "tuas" são bem diferentes das "minhas". cada vez que viajo de expresso, podem estar todos os lugares vazios, eu sento-me no tal lugar, e acaba sempre por vir alguém dizer "este é o meu número". olho em volta e puff. miles de lugares vazios. as pessoas lá dizem "deixe estar, eu sento-me aqui" e pronto.
vou sugadita, de preferência sem ninguém ao lado, para poder ocupar o lugar com o pc, e as malas, e qualquer coisa para petiscar durante as 3-às-vezes-4 horas de viagem.
ponho os phones, que a música é a minha melhor amiga nas viagens, e quase sempre me deixo dormir, nem que seja só metade da viagem, e depois o resto já não custa tanto.
ultimamente tenho viajado de carro. com a mana, ou de boleia. mas às vezes (só às vezes) tenho saudades de ir de expresso (quando sou "obrigada" a ouvir metal, por exemplo ahahaha).
De
Bomboca a 30 de Janeiro de 2009 às 14:21
Eu já fiz esta viagem uma vez, sentei-me no lugar indicado no papelinho azul. Queria dormir mas nas proximidades tinha dois vizinhos que não se calaram a viagem toda. Devia ser o entusiasmo da chegada do novo ano ;).
Agora a sério. Já viagei algumas vezes de expresso (não tantas como tu, nem sequer metade) mas das vezes que o fiz tentei cumprir sempre o número presente no papelinho azul. Quando não cumpri foi porque o meu lugar estava também ele já ocupado.
Em relação a preferências: lugar do lado da janela e se possível o que é logo a seguir à porta detrás (como referiu a p.uuuu) para poder esticar as pernas :)
Bjinhos e boas viagens
PS: esta semana não apanhas expresso mas vais estar em boas companhias :)
Já não tem nada a ver com as anedotas sádicas, mas uma terapeuta da fala minha conhecida anda a tratar um rapaz que se deixou dormir com a cara na janela do comboio, na zona onde está o ar condicionado e ficou paralisado desse lado.
Portantus... Cuidado com as sonecas nas viagens!
De
Té a 2 de Fevereiro de 2009 às 16:19
@ Um Gajo Qualquer
É por isso que não me chego a fartar destas viagens. Dá tempo para muitas coisas que a vida não deixa normalmente.
@ P.
Não percebo porque as pessoas tanto gostam desse lugar. A mim só me lembra: se tiver um acidente nesse lugar sou a mais projectada! Lol...também não queria puxar este post para as anedotas sádicas.
@ Bomboca
Malvadas dessas pessoas que não te deixaram dormir! Quem seriam os patifes?? eheh
@ Blog Feito na Bimby
LOL! Aqui fica registado em acta: agora é que não me vou deixar mesmo adormecer em viagem.
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