Pois quando não sabes

Era quase abrir a porta a um estranho de sobrancelhas grossas, coluna ligeiramente curvada, careca a sobressair, só que este eu sabia ao que vinha.

Apesar de tudo, lá ia eu abrir a porta ao senhor. Aos Sábados, invariavelmente.

Até ao trágico dia.

Felizmente, o destino não permitiu que eu estivesse em casa nesse Sábado. Foi minha mãe , com minha pobre irmã, quem o recebeu nessa tarde que mudou tudo.
O estranho de sobrancelhas grossas, coluna ligeiramente curvada, careca a sobressair, que sabíamos ao que vinha, trazia apenas dois dedos numa mão - polegar e indicador.

É triste, bem sei, mas o relato dele a folhear livros com a sua mão desprovida de dedos, como uma pinça, alterou para sempre a imagem - já pouco famosa - que tinha dele. Tornara-se numa personagem do Scary Movie - aquela que mexe o puré de batata com a mão defeituosa, à qual insiste chamar de mão forte.

E foi assim que nunca mais fui eu a abrir a porta ao Homem do Círculo de Leitores.

Nunca o cheguei a ver depois do incidente. Mas a perninha que já tenho no Inferno, ninguém ma tira.